Pobreza infantil bate recorde e atinge 44,7% das crianças

O ano de 2021 registrou um número recorde de pobreza infantil, com 44,7% das crianças de zero a seis anos vivendo em situação de pobreza (renda mensal abaixo de R$ 467,67), enquanto 12,7% viviam em situação de extrema pobreza (renda abaixo de R$ 161,56), totalizando 57,4%. Os dados são do estudo “Pobreza infantil no Brasil: 2012-2021”, publicado pelo Laboratório de desigualdades, pobreza e mercado de trabalho, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Das crianças do meio rural, a taxa de pobreza era de 69,7% contra 40,2% para as que vivem no meio urbano. Os dados também mostram que crianças negras estão em maior situação de vulnerabilidade social: os números chegam a ser 68% e 98% maiores do que a média quando falamos sobre este grupo social. Com exceção do Ceará, todos os Estados do nordeste tinham mais de 60% das suas crianças classificadas como pobres.

A pobreza infantil também é capaz de refletir como a desigualdade financeira pode estar atrelada ao nível de estudo das famílias: entre as crianças cujas famílias estão abaixo da linha de pobreza, o adulto de referência tinha em média 8,8 anos de estudo (contra 11,9 nas famílias acima da linha de pobreza). O percentual de adultos de referência com ao menos ensino médio completo era de 35,9% (contra 71,3% nas famílias acima da linha de pobreza). Além disso, 27,4% das crianças em situação de pobreza, e 39% daquelas em situação de extrema pobreza, viviam em famílias monoparentais em 2021. 

Por que falar sobre pobreza infantil?

“Muitas das privações que são enfrentadas na primeira infância podem ter consequências irreversíveis que perdurarão por toda a vida. Por essa razão, as consequências da pobreza para as crianças que a enfrentam, e para a sociedade, têm recebido muita atenção dos pesquisadores de diversas áreas do conhecimento”, relatam André Ricardo Salata, Ely José de Mattos e Izete Pengo Bagolin, responsáveis pelo relatório. Segundo os pesquisadores, é necessário avaliar as múltiplas privações sofridas por essas crianças e de seus efeitos de curto, médio e longo prazos.

Impactos da pandemia

A taxa de pobreza infantil, que era de 41,5% em 2019, caiu para 36,1% em 2020, e voltou a subir para 44,7% em 2021 – refletindo o impacto do auxílio emergencial (AE), destinado aos adultos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados no primeiro período de pandemia. Mesmo que a política pública não tenha sido voltada diretamente às crianças, 68 milhões de brasileiros foram atendidos pelo auxílio.

Entre janeiro e março de 2021, o pagamento do auxílio foi interrompido, fazendo com que diversas famílias ficassem sem acesso a programas de transferência de renda, como o extinto Bolsa Família. A partir de abril de 2021 o auxílio voltou a ser pago (Medida Provisória n. 1.039, de 18.03.2021), mas com valor inferior – R$ 150 para pessoas que moravam sozinhas, R$ 375 para mulheres responsáveis por famílias monoparentais e R$ 250 para famílias compostas por mais de uma pessoa, além da cobertura menor, alcançando aproximadamente 39 milhões de famílias beneficiadas.

“Mesmo programas sociais que não têm como foco principal crianças e adolescentes em situação de (extrema) pobreza, como foi o caso do AE, contribuem para o enfrentamento dessa questão. Em consequência, variações repentinas nos valores, nas faixas de corte, nos benefícios e na cobertura desses programas, como vimos, podem ter enormes consequências para o bem-estar de milhares de crianças em um momento fundamental de seu desenvolvimento”, explicam os pesquisadores. O estudo estima que, caso não existissem auxílios de transferência de renda como o Bolsa Família e o próprio auxílio emergencial, a pobreza chegaria a atingir quase 50% das crianças brasileiras em 2021: o número pularia de 44,7 para 47,5; assim como o índice de extrema pobreza no ano passaria de 12,7% para 16,9%.

Fonte: Lunetas

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